No dia 27 de agosto, ou seja, semana passada, foi comemorado o “Dia do Psicólogo”. Data significativa se considerarmos este ofício uma vocação, um “Dom” que se revela a partir das experiências / vivências do psicólogo durante o seu desenvolvimento e formação de sua personalidade.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP), em 1999, comemorou 100 anos de Psicologia no Brasil. Entretanto, sabemos que a psicologia se desenvolveu ainda no fim do século XIX, como fruto da filosofia através das concepções sobre o homem encontradas nos grandes sábios da época como Hipócrates, Platão e Aristóteles. Sendo que o desenvolvimento posterior da psicologia, através das teorias da personalidade, se deu por meio das contribuições de inúmeros pensadores como: Tomás de Aquino, Bentham, Comte, Hobes, Kierkegaard, Nietzsche e Maquiavel, que viveram nos séculos intermediários, isto é, entre os clássicos e a nossa época, cujas idéias ainda podem ser encontradas no pensamento contemporâneo. Haja vista a grande propagação do livro e do filme “Quando Nietzsche Chorou”, revelando a outra face da psicologia e seus efeitos na relação terapêutica através das lentes do filósofo Nietzsche e do Dr. Breuer, médico e parceiro de Freud em seus estudos psicanalíticos.
Além das contribuições dos pensadores da época, devemos considerar a tradição iniciada no campo da medicina com Charcot, Janet e, principalmente, Freud, Jung e McDougall, os quais contribuíram muito no desenvolvimento desta ciência. Desde então, inúmeras descobertas foram feitas neste campo de infinito conhecimento e prática analítica.
Esta breve introdução leva-nos à compreensão da importância do nosso papel através das contribuições da psicologia que visam promover a saúde integral das pessoas, ajudando no desenvolvimento e na evolução da humanidade. Uma ciência que objetiva “entender” para “atender” as reais necessidades do nosso tempo. Nossas angustias, nossos medos, nossa própria inquietude humana nos remete a reflexão e a introspecção em busca da harmonia e do equilíbrio para nossa existência. Um eterno questionamento, ou um eterno ponto de interrogação, que nos coloca (assim deveria ser) como objeto de estudo e pesquisa para desenvolvermos novas competências e um domínio (em termos de conhecimento) das mais profundas motivações inconscientes que nos fazem cada vez mais humanos (mortais), porém, cada vez mais livres das nossas próprias amarras, trazendo-nos entendimento, sabedoria e individuação. Desta forma, podemos dizer que o principal instrumento de trabalho do psicólogo é a própria pessoa dele, com toda a sua bagagem de conhecimento (acadêmico e também de sua própria história de vida), tendo consciência de que a razão da psicologia existir está fundamentalmente entrelaçada num contínuo investimento (psíquico e afetivo) que se faz no vínculo terapêutico, na relação psicólogo-paciente, psicólogo-cliente. Esta relação, quando bem trabalhada, de modo ético e profissional, traz importante resultado (benefício) em termos de aprendizado. Neste contexto, torna-se imprescindível compreender que o principal instrumento de trabalho também deve ser o principal objeto de estudo e análise, pois quanto melhor (mais “resolvido”) o psicólogo estiver com suas questões e conflitos internos, mais bem preparado estará para ajudar o outro em suas necessidades.
Estudo, pesquisa e autoconhecimento através da análise constante a que somos submetidos, mais um “quantum” de energia e de desejo depositados em forma de investimento no nosso ofício, na nossa profissão, com certeza, resultará em ganhos reais que ultrapassam os ínfimos objetivos da cultura de massa da nossa sociedade. Uma cultura que valoriza apenas o poder e os ganhos materiais num eterno “faz-de-conta” que somos felizes. Desempenhar bem o nosso papel nos dará a certeza de que escolhemos um caminho seguro na direção da nossa própria evolução.