Por ter se tornado um marco de uma geração inteira e um ícone da contra-cultura, Hair, musical colorido e dançante de Milos Forman acabou introduzindo alguns paradigmas para os musicais que viriam logo em seguida. A exemplo de Um Estranho no Ninho, este filme sorridente e saltitante do diretor tcheco é um representante óbvio do anarquismo e da rebeldia excitante que marcou a década de 60. Além disso, é a síntese do inconformismo, característica recorrente no cinema elegante de Milos Forman. As músicas, o ritmo, os diálogos, tudo comporta um argumento simples e inteligente, ajudando a compor um filme coeso e dançante, mas sem nunca deixar de ser bem argumentado.
Claude (John Savage), um jovem do Oklahoma que foi recrutado para a guerra do Vietnã, é “adotado” em Nova York por um grupo de hippies comandados por Berger (Treat Williams), que, como seus amigos, tem conceitos nada convencionais sobre o comportamento social e tenta convencê-lo dos absurdos da atual sociedade. Lá, Claude também se apaixona por Sheila (Beverly D’Angelo), uma jovem proveniente de uma rica família.
Mas o grande destaque deste belo musical é o seu espírito coletivo. O grupo que Claude conhece e passa então a fazer parte é dotado de um senso coletivo explícito, que conquista quem quer que seja – mesmo que, por vezes, exagere no ostracismo. É interessante apontar que, mesmo nos momentos que precedem a ida de Claude para a guerra, há um claro exemplo deste companheirismo – o que acaba sendo reforçado pelo final corajoso e pacifista. Os conflitos internos existem, é claro, e disso ninguém escapa (pois falamos de seres humanos que erram, discutem e se acertam logo depois, tal como sua natureza demonstra-nos), mas o trabalho coletivo e o sacrifício em prol do próximo podem gerar grandes benefícios no futuro.
O líder do grupo, Berger, carrega consigo o símbolo do inconformismo, mas não deixa de ser ele mesmo o responsável pelo “sucesso” da equipe, convocando e incentivando seus comandados sempre com destreza e respeito, ganhando, assim, a confiança de todos. Conhecendo um ao outro, os personagens alcançam mais facilmente seus objetivos e atingem um grau muito maior de eficiência e, inclusive, satisfação pessoal por ver seu trabalho bem realizado. Ademais, a criatividade pode surgir em momentos onde o grupo está consciente de sua tarefa e o trabalho flui naturalmente – ainda mais se levarmos em conta que, com um grupo satisfeito com suas atividades e colegas, pode render muito mais.
E quêm não se lembra na música principal deste filme? Age of Aquarius, vide o clipe, neste link.