Muitos casais procuram ajuda de especialistas para resolverem seus conflitos. Em muitos casos encontramos, no estabelecimento da união, uma história fundamentada na busca da satisfação de necessidades primárias. Ou seja, é comum nos depararmos com contratos conjugais firmados nas bases do relacionamento parentalizado. São “filhos” que procuram nos seus parceiros o que em seu desenvolvimento emocional-afetivo não teriam encontrado de forma satisfatória.
Histórias de grande privação afetiva baseada na escassez de recursos (estímulos) necessários à satisfação das necessidades psicológicas repercutem consideravelmente na formação da auto-imagem do indivíduo. A conseqüente baixa auto-estima motiva, invariavelmente, as escolhas afetivas que serão feitas no transcorrer da sua vida.
Cabe destacar que a construção de uma auto-imagem positiva se dá por meio do reconhecimento e da conseqüente validação do potencial da criança. Para que isso aconteça, é necessário que o adulto responsável consiga aceitá-la e respeitá-la na sua essência, preservando o seu lugar na família. Desta forma ele interfere (positivamente ou negativamente) na observância e no atendimento de suas necessidades de estima, de pertencimento e de validação. É assim que a criança consegue se reconhecer e construir sua auto-imagem. Esse processo torna a pessoa não somente capaz de identificar suas capacidades, mas, sobretudo, capaz de reconhecer-se na totalidade aprendendo a cuidar de suas necessidades psicológicas e a preservar o que há de mais importante nessa primeira lição de vida: o amor por si mesma e o respeito à sua individualidade.
A pessoa que aprendeu a se amar provavelmente não terá grandes dificuldades para fazer escolhas afetivas funcionais. Significa que a construção de sua auto-imagem, baseada na sua auto-estima, se fundamenta no amor-próprio que foi aprendido (e apreendido) por meio da aceitação e valorização de sua pessoa no início de sua vida. Essa primeira grande aquisição desenvolverá novos recursos (internos) capazes de prover suas necessidades afetivas na vida adulta, tornando-a auto-sustentável. Chamamos essa aquisição de individuação. É quando o adulto se torna capaz de bancar a si mesmo e a seu projeto de vida. Uma boa auto-estima faz com que a pessoa reconheça que não é o outro o responsável direto pela satisfação de suas necessidades e, sim, sua própria capacidade de prover a si mesma que manterá seu nível de satisfação e a conseqüente realização pessoal.
Muitas pessoas que apresentam problemas de auto-estima, portanto, não aprenderam a cuidar bem de si mesmas, dependem ainda da aceitação, da aprovação, do olhar de reconhecimento do outro sobre suas próprias necessidades. Daí a vulnerabilidade, a dependência, a sujeição, o “domínio” da outra pessoa sobre sua vida, sobre seus sentimentos e sobre seu estado de infelicidade. Muitas escolhas conjugais não se baseiam em escolhas afetivas e, sim, na necessidade de reparar os danos da auto-estima causados no passado. São filhos buscando em seus parceiros o representante do passado para, então, oferecer-lhe o que não teria “conquistado”: o amor-parentalizado. Neste sentido é comum nos depararmos com pessoas que se submetem a relações disfuncionais por não se verem capazes de cuidar bem de si mesmas. Por isso tantos casamentos fracassados, tantas relações disfuncionais que se perpetuam vida afora… Porque os casais, apesar do sofrimento e da constante frustração, não conseguem, nem mesmo, a separação-individuação.
Saída para esse impasse? Uma boa dose de psicoterapia que pode se dar em diversas modalidades para que o casal encontre, de fato, uma saída que não seja a anulação de suas capacidades e do seu potencial, mas a observância, o reconhecimento e o fortalecimento da sua auto-estima repercutindo na mudança do contrato conjugal. Transformar uma relação parentalizada numa relação afetiva é possível. Basta um pouco de coragem e ajuda necessária para transformar essa realidade.