Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa tudo sempre passará, a vida vem em ondas, como o mar, em um indo e vindo infinito. Assim nos ensinava o inesquecível Tim Maia, em uma de suas mais famosas músicas.
Tivemos neste final do mês de março a primeira visita de Obama ao Brasil, do primeiro presidente Negro da (ainda) nação mais poderosa do mundo, feita a primeira mulher eleita presidente no Brasil, dentro dos primeiros três meses do governo, por sinal no mês internacional da mulher.
Esta visita foi marcada por ondas positivas. Dilma saiu-se bem, teve uma personalidade própria, projetando-se definitivamente no cenário internacional. Aliás, foi enquanto estava com Dilma que Obama ordenou o início do bombardeio contra Kadafi na Líbia, pois o Presidente dos Estados Unidos continua sendo o Presidente dos Estados Unidos, independentemente onde se encontre, sem necessidade de transferir o poder quando sai do País.
Em seu primeiro discurso sábado em Brasília, Barack Obama proferiu a seguinte frase: Queremos realizar o sonho americano junto com o Brasil. Em visitas feitas a mais de uma década o discurso dos presidentes americanos que aqui pisaram, tinham o tom no sentido de que iriam interceder junto ao FMI, para perdoar ou aliviar nossa dívida externa. Agora somos convidados, ainda que apenas no discurso, a participar do sonho americano.
Tem aquela parte da canção que diz que tudo passa tudo sempre passará e que a vida vem em ondas como o mar, em um vindo e vindo infinito. Pois bem, temos que aproveitar a onda. E temos que saber que tudo passa. Portanto devemos nos preparar para o futuro.
Talvez Obama, em seu inconsciente, através de suas palavras, queria de nos alertar para o efeito Orloff, ou seja, queria dizer ao Brasil: “eu sou você amanhã”, nos alertando também para as implicações do crescimento através do uso desenfreado do crédito.
Vivemos uma onda positiva de crescimento econômico no Brasil, impulsionada pelo setor imobiliário, construção civil e também do agronegócio. Note-se que a maior parte das vendas destes setores se dá prazo, através de programas de financiamento habitacional, financiamento ao agronegócio, e financiamento para compra de equipamentos agrícolas.
Tudo passa tudo sempre passará… Casas novas, loteamentos novos, tratores novos, máquinas agrícolas novas, veículos novos, quem nunca teve agora tem. No entanto, tudo comprado a prazo, muitas vezes em longo prazo e com juros que embora se digam “subsidiados”, continuam sendo juros altos se comparados a outros países.
O “Financial Times” jornal britânico centenário, um dos maiores e mais respeitados diários econômicos do mundo, comentou que o mercado brasileiro de crédito pode estar formando uma bolha parecida como a vista nos Estados Unidos em 2008.
A coluna de Paul Marshall de 21 de Fevereiro 2011, que além de jornalista econômico atua no mercado gerenciando empresas de investimentos, afirmou que o problema no Brasil, começa no fardo que esta dívida impõe aos consumidores.
Com uma taxa de juros alta o consumidor brasileiro paga em média taxas de cerca de 20% a 25% de juros ao ano. Nos casos onde há o subsídio, estas taxas ficam entre 15 a 10% ao ano, e em raros casos especiais alguns raros segmentos chegam a financiar os bens comercializados a 7 ou 8% ao ano.
Ora, no resto do mundo no resto do mundo o dinheiro custa 1% a 3% ao ano. Nas palavras de Marshall, tomar empréstimos no Brasil tem custos punitivos.
Para o colunista, o Brasil tem vivido uma farra do crédito para alavancar a atividade econômica e sustentar o nível de crescimento igual ao dos países do BRIC (Rússia, Índia e China). Ressalta, no entanto, que estes países possuem uma taxa de poupança interna bem maior do que o Brasil.
Foram anunciadas medidas de cortes significativos do orçamento nacional, o que é um excelente começo. Mas no plano individual, em nossos orçamentos domésticos também temos ter em mente, que como dizia Tim Maia, tudo passa, tudo sempre passará…
Existem dívidas boas e dívidas más, segundo Robert Kiyosaki, autor do livro Pai Rico, Pai Pobre. Editora Campus 1998.
Dívida boa é quando se adquire um bem de produção, que irá gerar riqueza o suficiente para pagar suas prestações e ainda sobrar recursos que irão por sua vez gerar mais riquezas, aí sim, o crédito alavanca a economia. É uma dívida utilizada para gerar riquezas que além de se pagar tem condições de gerar poupança.
Uma dívida má é aquela destinada apenas ao consumo, ou seja, utiliza-se de recursos decorrentes de alguma atividade produtiva para financiar um bem que será consumível ao longo tempo e não irá gerar em contrapartida nenhum outro recurso, pois como o nome já diz se consome, ao longo do tempo.
Para o nosso próprio bem, pensando no futuro e lembrando que a vida vem em ondas, em um indo e vindo infinito, devemos sempre fazer este raciocínio antes de assumirmos um compromisso financeiro de longo prazo: se esta será uma dívida boa, ou poderá ser uma dívida má.
Excelente semana a todos!
Ivo Ricardo Lozekam
Email e MSN: ivoricardo@terra.com.br
Consultor de Empresas na Área Tributária
Membro do IBPT – Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário