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direitospcdVivemos numa sociedade que propõe a relativização e a fragmentação da ética e dos valores. Tudo passou a ser relativo. As próprias leis que deveriam determinar o limite entre o que é permitido e saudável para uma sociedade e o que não é, também se mostram frágeis na medida em que os recursos disponibilizados pela própria lei permite ao infrator ou criminoso uma defesa ou uma condenação branda. O que vemos, a exemplo (ou mau exemplo), através dos meios de comunicação é essa “banalização” e essa fragmentação dos fatos e acontecimentos.

Não podemos esquecer que esse “caos” que assistimos diariamente pelas diversas mídias exprime e imprime as nossas vivências e as mudanças em nossa sociedade. Por isso, falar sobre os efeitos danosos e positivos dos meios de comunicação, como a própria televisão, é ir além do que se vê. É poder analisar o momento que nossa sociedade está vivendo.

Nossa sociedade revela a ausência de uma “totalidade” que nos daria uma noção mais clara dos limites entre a normalidade e o patológico. Tudo passou a ser relativizado. Dá-se “jeito prá tudo” e todas as ações têm uma justificativa plausível. Isso também está sendo passado através dos meios de comunicação, revelando a fragilidade que nossas crianças se encontram. Podemos dizer, assim, que vivemos um quadro de patologia social.

A criança precisa encontrar um espaço para discussão e análise do que se passa nas entrelinhas e na subjetividade de toda informação que recebe. Os pais precisam estar atentos ao que a criança assiste e precisam ajudá-la a pensar. É tarefa dos pais e educadores desenvolver o espírito crítico na criança. Esse espírito crítico vai fazer com que ela aprenda a selecionar os “conteúdos” apresentados, incluindo a própria Internet.

Vale lembrar – e usar como referência – o que dizíamos antigamente às crianças, de que elas não deveriam aceitar “balinhas e docinho” de estranhos. Hoje, devemos continuar usando esse argumento para mostrar à criança que ela também não deve aceitar todos os “convites” e as propostas feitas pela televisão e pela Internet, pelos amigos e pela sociedade.

Penso que a saída para essa pós-modernidade que ainda viveremos é enfatizar aos jovens a idéia de critério e hierarquia. E essa é uma missão extremamente difícil, pois estamos indo, dessa maneira, contra o movimento que a sociedade propõe: a relatividade das coisas. Ou seja, tudo se equivale. Na relatividade não existem diferenças, não existem regras, tudo é permitido e compreendido (aceito). Ex: “Posso obedecer ou não ao sinal de trânsito e dá na mesma, o negócio é levar vantagem em tudo”. E o pior dessa relativização e fragmentação da história dos acontecimentos é que, muitas vezes, os pais se encontram nessa mesma posição, contribuindo e reforçando o “vale-tudo” da nossa sociedade.

A questão é complexa, pois se alguns pais se mostram “contaminados” com o meio em que vivem, como poderiam passar, de forma firme e hierárquica, os limites baseados nos valores da ética e da moral que determinam o equilíbrio necessário à vida da criança? Segundo a professora titular de filosofia contemporânea Scarlett Marton, da Universidade de São Paulo, na matéria apresentada pela Revista Cláudia no mês de junho, sobre “O mal, o bem e a gente”, “… a idéia de que é preciso ter uma visão de conjunto do processo histórico e da sociedade, uma concepção do homem e da inserção social, histórica e cultural, caiu em desuso e foi substituído por algo fragmentário. Por exemplo, as coletâneas e artigos substituem livros com começo, meio e fim; na medicina, a proliferação de especialistas torna inoperante o clínico geral; em artes e entretenimento, o tempo da TV é mais fragmentado que o do cinema, e o do videoclipe mais fragmentado que o da TV”. Sofremos esse impacto no cotidiano. E a sensação de não ter tempo para dar conta de toda demanda e digeri-la produz o estresse, a síndrome de Burnout e tantas outras doenças reativas que levam as pessoas a experimentar uma sensação de “vazio” e de falta. Vivemos a experiência do “tempo picotado”. E sem a visão de conjunto, fica difícil ter discernimento para estabelecer critérios e prioridades.