Recentemente, ao “navegar” na internet, buscando informações atualizadas sobre o PBQP-H, mais precisamente pelo SiAC, identifiquei um excelente artigo elaborado por um engenheiro civil, o Sr. Cristiano Alvarenga). O artigo mostra de forma clara e objetiva a realidade da grande maioria das empresas do segmento da construção civil de buscar incorporar na rotina do dia-a-dia e da gestão, os requisitos do SiAC. Segue abaixo o artigo na íntegra.
PBQP-H: o que é e como identificar se uma empresa o leva a sério (Por Cristiano Alvarenga)
Simplesmente dizer que PBQP-H é o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat não explica muita coisa. A maioria dos estudantes de engenharia e diversos compradores de imóveis já ouviram falar nesta sigla, mas não conseguem entender na prática como o programa funciona ou qual sua finalidade. Na verdade, a grande maioria dos engenheiros civis conhece o programa, trabalha numa empresa que é certificada, mas não sabe muito bem o que é o programa ou ainda acredita fielmente que ele engessa seu trabalho e que tem uma papelada para ser preenchida que só atrapalha!
Tentarei explicar aqui de uma maneira de fácil entendimento como funciona o PBQP-H na construção de edifícios, para que ele serve e ainda como identificar se uma empresa leva a sério o programa ou se apenas quer possuir um selo (que é a maioria dos casos, por incrível que pareça).
Pode-se dizer que o PBQP-H é a ISO 9001 voltada para a construção civil, pois ele possui muitas semelhanças com a ISO, tanto que geralmente as empresas certificadas no PBQP-H também são certificadas na ISO 9001. O principal objetivo do PBQP-H é trazer mais qualidade e produtividade para a construção civil, visando assim uma melhoria dos produtos para o cliente (comprador). Na prática, o programa consiste em identificar quais são os pontos mais críticos na empresa e padronizar os serviços. Por exemplo, se a empresa acha que o serviço de pintura é importante para a qualidade percebida pelo cliente, então ela deve padronizar este serviço; se julga que a concretagem das peças estruturais é vital para a qualidade da obra, então tem que padronizar a tarefa; se acredita que os tijolos são materiais importantes para a qualidade da edificação, então tem que padronizar a forma de receber, armazenar e manusear os mesmos. Depois de um tempo, a empresa deve medir os resultados para ver se o cliente está percebendo mais qualidade e melhorar cada vez mais seus procedimentos padronizados. Só isto!
Percebe-se então que o principal termo do programa de qualidade é padronização. Isto implica em fazer as principais atividades de uma obra de forma sempre igual e obter um mesmo resultado para os serviços padronizados. Desta forma, se ganha qualidade, produtividade e evita-se, assim, problemas futuros como trincas, infiltrações, bolhas na pintura, queda de cerâmica de fachada, entre outros. Depois de um determinado tempo, os padrões são revisados e aprimora-se a forma de fazer os serviços, ganhando mais qualidade, produtividade e evitando defeitos construtivos. Assim, entra-se num ciclo de melhoria contínua cumprindo os padrões, revisando-os e atuando nas falhas (ou, como se diz no jargão da qualidade, removendo as anomalias). Pode-se dizer então que manter o PBQP-H significa fazer girar o ciclo SDCA (Standard, Do, Check, Action) – em breve outras notícias sobre conceitos de qualidade total e o método PDCA estarão disponíveis no site da Anglo Engenharia.
O PBQP-H exige que além dos serviços, a construtora controle ainda alguns materiais. Estes materiais devem ter o recebimento, armazenamento e manuseio de forma padronizada. Sendo assim, qualquer obra da empresa deve seguir as mesmas seqüências e regras para a execução dos serviços e tratamento dos materiais mais importantes.
Um problema freqüente que ocorre em diversas empresas é que muitos engenheiros negligenciam o PBQP-H porque, segundo eles, o programa tem muita papelada. Normalmente este tipo de profissional não se envolve no programa por preguiça de raciocinar e entender os conceitos de qualidade ou então por julgar que a empresa não precisa do programa. Para se descobrir se o engenheiro de sua obra se envolve ou não no programa, basta perguntar a Política de Qualidade da empresa para ele e também quais são os serviços e materiais controlados e ainda pedir para ver se existe alguma ficha de verificação de serviço assinada pelo engenheiro da obra. Se ele não souber responder às suas perguntas ou se não tiver assinado alguma ficha, esta empresa ou este profissional adotou o PBQP-H apenas para ter um selo, e não para te entregar qualidade!
Portanto, um ponto crucial para o bom funcionamento do programa de qualidade é o envolvimento dos engenheiros. A primeira coisa que os engenheiros devem fazer pela manhã é ver as Fichas de Ocorrências registradas no dia anterior e tratar estas anomalias. Estas fichas apontam o que não funcionou no programa de qualidade e como estes problemas estão sendo resolvidos. Portanto, outra forma de ver se o PBQP-H está sendo bem conduzido na empresa é verificando se o engenheiro está tratando corretamente as Fichas de Ocorrências. Se por acaso o engenheiro falar que em sua obra nunca houve nenhuma ocorrência, então pode ter certeza que ele desconhece a forma ideal de se tratar as Fichas de Ocorrências e como conduzir a análise de anomalias. Na verdade, este profissional só sabe preencher papel e fazer a empresa manter um selo de qualidade.
Então na prática várias empresas encontram dificuldades na implantação ou manutenção do programa de qualidade. A principal razão para isto é que o PBQP-H acaba se tornando um corpo estranho na empresa e é tratado como uma burocracia a ser vencida. Os engenheiros param de se envolver com o programa, passam a terceirizá-lo a outras pessoas na empresa, deixam de conhecer a Política da Qualidade, não sabem sequer quais são os serviços e materiais controlados! A gerência e diretoria da empresa não cobram ou não sabem cobrar o desenvolvimento do programa, então tudo pára… Se a empresa encarar o programa desta maneira, estará fadada a não conquistar a certificação ou a perdê-la.
Somente com envolvimento de todos os setores da empresa (compras, financeiro, etc) na busca pela qualidade é que se pode realmente entregar produtos de excelência para os clientes! A participação da diretoria da empresa é crucial, bem como o envolvimento por completo dos engenheiros nos processos de qualidade. Conduzido de maneira séria, o PBQP-H pode trazer ganhos enormes para a empresa e seus clientes.
Edificar com qualidade não é tarefa fácil. Construir visando à melhoria contínua dentro de um conceito amplo de qualidade é desafiador, mas é dever de todos profissionais de engenharia que pisam num canteiro de obras.
Cristiano Alvarenga é sócio-diretor da Anglo Engenharia e Participações Ltda. Graduado em engenharia civil pela UFMG, com MBA em Finanças Corporativas pelo IBMEC-MG e MBA em Finanças com Foco em Gestão Bancária pelo IBMEC-SP. Foi consultor do INDG de 2003 a 2006 e Gerente Geral de Agências no Unibanco de 2006 a 2008.
Contatos por e-mail: cristiano@angloengenharia.com.br