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Sem sombra de dúvida, está havendo uma significativa mudança nos papéis desempenhados pelo homem e pela mulher na vigência do matrimônio ou na vigência de uma sociedade afetiva.

Nos últimos tempos, percebemos, notoriamente, a evolução da sociedade na revisão de atribuições e conceitos delegados ao homem e à mulher, a começar pela “instituição casamento”. Atualmente são várias as configurações familiares apresentadas em nossa sociedade. À exemplo: casais que se formam a partir de um ou mais divórcios incluindo filhos destas relações; casais, homossexuais, que adotam crianças ou que estão concebendo filhos biológicos através de métodos de fertilização; homens e mulheres que firmam uma sociedade afetiva (e/ ou um compromisso real pelo vínculo estabelecido), porém, que preferem morar em casas separadas preservando, contudo, a individualidade de cada um e a permanência da imprevisibilidade na relação; enfim, são inúmeras as configurações familiares que atualmente a sociedade nos apresenta.

Embora algumas pessoas pensem o contrário, observamos, frequentemente, a busca de maior autenticidade nas relações e vínculos firmados. Estes, baseados no sentimento e no desejo genuíno de uma vida conjugal e familiar alicerçda na realização afetiva ou, em outros termos, no amor e na reciprocidade de sentimentos e objetivos pessoais comuns ao casal.

Com a inclusão da mulher no mundo do trabalho e a sua contínua luta para que direitos iguais sejam assegurados, a relação conjugal, na sua formatação anterior, vem sofrendo significativas mudanças em seu conceito e um novo olhar para a relação homem-mulher se fizeram em nosso meio. A própria Psicanálise precisou rever sua teoria a respeito do vínculo mãe-filho e o desempenho da função parental na vida da criança a partir desta nova concepção. 

Para a Psicanálise, independentemente da configuração familiar, o que realmente importa é que os papéis de homem e de mulher, de pai e de mãe se mostrem bem definidos no contexto familiar, ou seja, que a individualidade de todos seja preservada para que todas as funções esperadas na família possam ser desempenhadas de um modo claro e efetivo. Portanto, não nos preocupamos com o gênero masculino e feminino, damos importância para o desempenho da função paterna e materna, mesmo que sejam dois homens ou duas mulheres desempenhando as funções de pai e de mãe.

Não há mais lugar em nossa sociedade os casamentos fundamentados em relações aparentes ou superficiais, alimentados apenas por representações sociais.  O lugar conquistado pela mulher na sociedade contemporânea mudou as bases do contrato afetivo. Passando a prover suas necessidades básicas, a mulher deixou de valorizar tão somente o homem-provedor, promovendo uma mudança radical na relação homem-mulher. O homem-provedor é artigo de luxo ou um “artigo em extinção”. 

Este novo papel da mulher, segundo o psicanalista David Zimerman, contribuiu fundamentalmente para que o homem colaborasse mais intimamente com algumas tarefas domésticas; com uma atitude de partilhar com a companheira problemas, projetos e decisões; com um convívio mais próximo e intenso com os filhos e como um novo modelo de identificação que vai além daquele papel do “machão autoritário” ou do homem-provedor que atendia apenas as necessidades básicas de sua família.

Ao contrário da mentalidade arcaica e primitiva, que em algum segmento da nossa sociedade ainda reside, essa nova concepção de relacionamento homem-mulher permite que as pessoas sejam mais e não menos. E que as relações perdurem por mais tempo nas bases de um relacionamento funcional.

Patrícia Luiza Prigol – patricia_prigol@pop.com.br

Psicóloga Clínica

CRP 07/08744